Autor: Álef Rosh Benavraham
Total: 100 Poesias
96. ...CADÊ ELA?
Mulher diferente me atrai,
O inusitado me seduz,
Adoro ser surpreendido...
...Cadê ela?
...Cadê aquela que me fez delirar?
Todas tão iguais, comuns...
Tudo tão previsível:
Palavras repetidas, ensaiadas...
Geração de uma só forma,
Filhas da estética,
Escravas da vaidade...
...Cadê o produto da embalagem?
Não agüento mais rótulos,
Massas prontas,
Seriados do morno prazer...
...Cadê ela?
...Cadê a mulher que fez minha cabeça?
...Cadê você?
Desde anteontem não a vejo...
97. SEMENTES
Farfalhar das idéias
Que esvoaçam sentimentos,
Ideais deixados ao relento...
O vento leva e traz...
Espalha, ajunta, embaralha...
Do espírito surgem os ventos,
Nascem sementes,
Ressurgem sentimentos,
Tudo é composto lá dentro...
Tenho o espírito dos ventos,
A alma da vida,
A vida do corpo,
O corpo das idéias,
Tudo decomposto lá dentro...
Sou poeta-profeta,
Vivo a ressurreição do amor
Na imortalidade dos ventos...
Esvoaço minha existência
No farfalhar das poesias,
Entrego tudo ao tempo...
98. SAUDADES
Sinto saudade da toalha de banho
Encharcada do seu cheiro,
Do tempero picante da vida a dois...
Saudade das coisas em comum,
Dos pratos iguais, das taças à mesa,
Dos motivos das comemorações...
Saudade da saudade que sentia
Na distância dos corpos,
Dos impulsos emotivos
Que conduziam o roteiro dos dias...
Saudade da vontade louca
De fazer amor sem regras,
Das fantasias incontidas,
Do fôlego insaciável,
De toda grandeza da paixão...
Saudade das brigas, intrigas, ciúmes,
De refazer as pazes...
Saudade do calor dos corpos
Na hora de dormir,
De acordar ao lado e cutucar,
De tomar café sorrindo...
Saudade de festejar a vida diária,
Das noitadas, das farras,
Da felicidade que é viver
Um grande amor...
Saudade da cumplicidade,
Do companheirismo,
Da amizade verdadeira,
Da completude compartilhada...
Saudade das infantilidades,
Das brincadeiras, da alegria, da pureza,
Que enfeitavam nossa rotina...
Saudade das adrenalinas, das aventuras,
Das viagens surgidas do nada...
Saudade das lágrimas, dos abraços,
Dos pedidos de perdão,
Da vontade de recomeçar...
Vontade de amar e ser amado
Como nunca antes...
99. SEM UTOPIAS
Não falo do amor que anula,
Suga ou destrói a individualidade,
Falo do que a reconstrói...
Daquele que nos pega quebrados,
Moídos, desmotivados, mortos,
E nos devolve o fôlego...
Não falo do amor equivocado,
Vulgar, tolo, vazio, comum,
Deste amor que mata o outro...
Falo do amor-vivo,
Transubstanciado em carne,
Corpóreo, palpável, real...
Do que nos vivifica através de atos,
Fatos, gestos e coisas...
Não falo do amor que manipula,
Ilude, proíbe, condena, induz...
Falo do que seduz para o bem,
Do verdadeiro, raro, nobre,
Daquele que nos cobre de felicidades...
100. TRÊS PONTOS...
Peguei uma aquarela,
Pintei o amor em dois pontos:
Um ponto de cruz,
Um ponto de luz...
Nisto resume-se
A essência do universo,
Que nem verso, nem reverso,
Consegue moldurá-la...
O ciúme crucificado
Libertou-se da tela;
A luz fez-se fé;
A cruz, sombra eterna...
Agora todos pintamos
O terceiro ponto,
Que juntos são reticências...
Que juntos são reticências...
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